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02/06/2018

O Djinn - Parte 2




PARTE 1 < AQUI

A primeira coisa que ela viu foi um bando de pássaros sobrevoando as copas das árvores. Era dia na floresta e ela estava sozinha.
Olívia sentou lentamente, surpresa com as lágrimas que rolavam de seu rosto.
Pesadelo?
Era como se sentia, mas então como tinha dormido ali? Onde estava Ezequiel? Que lembranças terríveis eram aquelas?
Risadas demoníacas no escuro; Charlie perseguindo-os ensandecido; E por último...  A imagem de seu filho baleado morrendo em seus braços.
Não queria acreditar em sua memória. Se os eventos fossem reais, Ezequiel desaparecera enquanto ela estava desmaiada, levado pela coisa na floresta.
Ela levantou e se pôs correr. Seu coração palpitava.
Não podia ser real... Não podia... Mas o pesadelo era a única explicação que tinha para estar ali. Ela e Ezequiel tinham saído para procurar o filho, e agora ela retornava sozinha. Sua família inteira roubada sem explicação.
O vazio que já existia nela começou a aumentar, e tudo que ela podia fazer era preenchê-lo com dor. Sem eles não havia motivo algum para continuar vivendo.
A grande incerteza sobre o que realmente tinha acontecido diminuía seus sentidos e empregava velocidade às pernas. Correu sem direção, gritando o mais alto que podia.
- DEVOLVA! DEVOLVA ELES!
Dez minutos depois, encontrou uma trilha, e logo depois os tocos das árvores que Ezequiel derrubara recentemente. Ela estava chegando em seu lar.
Poderei chamar de lar um lugar sem vida? Pensou.
Seguindo a trilha, chegou à base da colina que residia. As árvores ali eram mais escassas, abrindo espaço para a grama. Olívia subiu a inclinação ansiosa, tanto para chegar em casa quanto para sair daquela floresta maldita.
Chegando na borda, precisou se apoiar em um tronco para respirar. Logo à sua frente começava a plantação de cana da família, cada pé com quase dois metros de altura. O caminho prosseguia entre as plantas até o topo da colina.
De repente algo lhe chama a atenção. Um fio de fumaça se desenrolando no horizonte. Exatamente onde estava a...
Porém mal teve tempo de se alegrar, e um vento gélido e paralisante a atingiu por trás. Trazia com ele os sussurros guturais da criatura.
- Você pode tê-los...
O demônio falava com ela. Era como se estivesse ao seu lado prestes a colocar a mão em seu ombro.
- Por enquanto... Aproveite...
Num instante, Olívia corria disparada no canavial. Ela cerrou os dentes e chorou novamente, odiando com todas as forças aquela coisa medonha e inexplicável. Odiava a sensação de impotência que lhe causava. Mas a odiava ainda mais pelo constante deboche em sua voz.
O que diabos ele queria dizer com aquilo?
Ezequiel a esperava na varanda, sentado na cadeira de balanço com o rifle ao lado do corpo. Quando a viu, levantou e ergueu os dois braços pro alto, comemorando.
- EU SABIA! EU SABIA! – Gritou, e correu de encontro.
Venceram os últimos metros e ela se entregou aos braços fortes de seu marido, que passou a beijá-la e repetir que sabia que ela voltaria.
- Venha ver o Michael!
- Ele está mesmo aqui?
Então o menino apareceu de trás da casa. Correndo e saltando em sua direção.
- MÃE!
Olívia estava boba de emoção. Abraçou ambos e chorou por um bom tempo. Michael não parecia diferente em nada. Continuava o garoto sorridente e carinhoso de sempre.
- Ezequiel... o que aconteceu? Quando foi que ele voltou? E você... eu pensei que você tinha desaparecido depois que eu...
Ele ficou sério, depois disse para Michael ir colocar mais madeira na lareira. Quando o menino se afastou, ele começou a andar e ela o seguiu.
- Michael reapareceu cinco dias atrás, no sétimo dia desde o sumiço.
- Mas isso é impossível! Ontem mesmo procurávamos por ele!
- Quando ele me viu me contou como tinha entrado na floresta, no dia anterior, e se perdido... Michael não fazia ideia que tinha sumido por sete dias. Só ficava repetindo que estava voando com um dragão azul.
Ezequiel parou em frente à uma pequena cruz enfiada no chão. Era a sepultura improvisada de Charlie. Algumas gramíneas já apareciam na terra recém revirada.
- Todos os desaparecidos estão retornando no sétimo dia. Ninguém sabe explicar o que aconteceu... Na verdade nem tentam; só ficam contando os sonhos que tiveram.
- Eu fiquei naquele lugar, com aquela coisa, por uma semana?
Ele fez que sim.
Olívia estava tremendo.
- O que ele fez comigo... O que ele fez...
Ezequiel a abraçou.
- Calma... Você está bem... Estamos bem.
Ela se livrou do abraço, retomou o controle e o encarou.
- O que vamos fazer?
- Bem...
- Temos que mata-lo antes que as coisas piorem... Amanhã juntaremos os homens dispostos e...
- Caçamos ele? Você tem noção do que está dizendo? Não há como lutar com aquilo.
- Então vamos ser todos brinquedos do demônio? Vamos simplesmente fingir que nada disso aconteceu?
Ezequiel apenas balançou a cabeça.
Será que ele não percebe o quanto estamos ameaçados?
Por mais difícil que fosse, ela lembrou de seu último contato com a criatura:
- O demônio falou comigo... Quando eu estava chegando, ele disse que... disse que eu poderia aproveitar... por enquanto.
- Aproveitar o que?
- Vocês dois.
Um clima pesado pairou sobre eles e ninguém conseguiu dizer mais nada. Olívia passou o resto do dia brincando com Michael, e quando chegou a hora de ir, dormiram todos na mesma cama.
Na manhã seguinte, os três se acomodaram na picape e rumaram para a cidade. Ezequiel se mantinha carrancudo e pensativo.
- Mãe... podemos ter outro cachorro?
- Claro que sim, filho. Só precisamos achar um.
- Ninguém mais na cidade viu ele – disse Ezequiel de repente, – só eu.
- Um cachorro? – Perguntou Michael, inocente.
- E não quero ver de novo...
- Pelo menos me diga que vamos à polícia.
- O delegado...? Você vai ter que ir sozinha. Vou resolver outras coisas.


A cidade possuía pouco mais de três mil habitantes, mas pela movimentação nas ruas até parecia ter mais. Haviam pessoas reunidas em cada loja e cada esquina. Todos os carros da cidade tinham decidido aparecer nas vias principais.
- Vou abastecer e comprar o necessário para a colheita – disse ele ao estacionar. – Pode ir falar com o delegado se precisa mesmo, mas faça as compras da semana. Michael, vá com sua mãe.
Olívia deu um beijo em Ezequiel e desceu do veículo. Por algum motivo seu olhar acompanhou a picape até a perder de vista.
Foram primeiro a feira. O marido e o filho com certeza não tinham se alimentado direito durante o tempo que esteve desaparecida, então ela estava decidida a caprichar na cozinha.
Estava escolhendo batatas, decidindo entre duas receitas, quando um coro de gargalhadas chamou sua atenção. Três mulheres acompanhadas de uma criança se aproximavam. Pareciam bem animadas. Olívia conhecia duas de vista, e a do centro era sua amiga, Maria.
- Oi sumida! Tá tudo bem contigo?
- Sumida?
- Foi a Helen que começou a dizer isso. – Respondeu ela indicando a loira ao seu lado; uma das primeiras mulheres a desaparecer. – Não é legal!? Somos todas sumidas.
O comentário foi seguido de risadas.
- Como foi o seu sonho? – Perguntou Maria.
Olívia ficou muda olhando para as cinco mulheres. Estavam vidradas nela, ansiosas por seu relato onírico. Pelo canto do olho viu Michael correndo em círculos de braços abertos; contava seu sonho para o filho de Maria.
- Eu... sonhei com um rio...
- Um rio... e? – Insistiu ela
Olívia se sentia desconcertada com a atitude das mulheres naquela situação.
- Eu esqueci... Esqueci... Escuta, vocês não estão preocupadas com isso? Não sabemos o que está acontecendo!
No mesmo instante toda a animação do grupo desmoronou. As mulheres começaram a conversar entre si e evitar olhar em seus olhos. Maria pegou em seu ombro e a afastou das outras para conversarem a sós.
- Olívia... Michael voltou. Você não está feliz?
- É claro que estou feliz mas...
- Mas o que?
- Maria, você não sente... esse mal?
- Eu não sei...
- Seu filho Nicolas não desapareceu ainda, certo? E se ele for o próximo?
Agora era Maria se sentindo desconfortável. Ela levantou o queixo e disse:
- Todos voltam. Sem exceção. Amanhã o marido de Helen vai voltar. Você não tem o direito de deixa-la preocupada... Sabe, eu sonhei que cavalgava num campo repleto de flores e animais lindos. Um lugar perfeito e sem fim. Poderia ficar lá pra sempre. Só de lembrar já me sinto melhor... Todos estão bem Olívia, não estrague a felicidade dos outros com a sua paranoia.
Maria virou as costas e seguiu pela calçada com suas amigas. Não demorou muito estavam gargalhando novamente.
Minha paranoia?
Uma ideia terrível acabava de lhe ocorrer.
E se ela fosse a única pessoa preocupada em toda a cidade?
E se ninguém fizesse algo a respeito dos desaparecimentos?
E se a tratassem como louca?
O pensamento em si já era assustador. Se provado real, ela achava que sua sanidade estaria realmente ameaçada.
Olívia pegou a mão de Michael decidida a descobrir o que seria feito para impedir mais pessoas de desaparecer. Precisava falar com o delegado.
No caminho, analisou cada rosto que encontrava em busca de algum sinal de medo ou desconforto. Infelizmente, ela nunca tinha visto aquela gente tão feliz e despreocupada.
Dona Amélia, senhora acostumada a comentar a vida alheia, a chamou da janela de sua casa.
- Olívia, fiquei sabendo que também estava desaparecida. Como foi?
A pergunta fora feita com bom humor e descontração, e a ajudou a relaxar um pouco.
- Estou ótima. Obrigada Dona Amélia.
- Teve um desses... sonhos fantásticos?
Ela respondeu com outra pergunta.
- A senhora não fica desconfiada sabendo que tem uma coisa na floresta pegando as pessoas?
Amélia não perdeu o sorriso.
- Bom... eu não digo isso a todos, mas já que você perguntou... ele me parece algum tipo de espírito brincalhão. Um pregador de peças, entende? Não acho que queira nosso mal.
Só me faltava essa.
- Quem me dera ter um sonho bonito – continuou Amélia, suspirando. – Há tempos que não tenho uma aventura enquanto durmo.
- Eu sonhei que estava voando! – Disse Michael, fazendo a senhora rir.
- Mas que sorte a sua!
- Passar bem – disse Olívia com um sorriso forçado, e continuou seu caminho.
Poucos minutos depois ela subiu os degraus em frente à delegacia e entrou. Um jovem que datilografava em uma mesa nos fundos parou de escrever para atende-la.
- Sim?
No balcão de atendimento ela se apoiou, Michael tentava ver alguma coisa ficando na ponta dos pés.
- O delegado, por favor.
- Senhor Gomes! – gritou o jovem para o outro lado das dependências, onde ficava o cubículo do delegado.
Gomes saiu de sua saleta.
- Olívia, há quanto tempo não te vejo. Como vão as coisas na fazenda?
Tudo na frase e na expressão de Gomes indicava que ele seria mais uma decepção. Ela começava a perder a paciência com aquela baboseira.
- Delegado, o que a cidade está fazendo para evitar mais desaparecimentos?
- Nossa! Você parece até uma jornalista. Nunca te vi dessa maneira. Tem algo te perturbando?
- Mas é claro! Como você pode fingir que tá tudo normal? As pessoas estão sumindo todos os dias!
O sorriso de Gomes murchou até se tornar uma carranca de tédio.
- Nenhuma ficou desaparecida por mais de sete dias.
- E o que isso significa?
- Significa que eu não vou deixar você espalhar medo e confusão desnecessária pela cidade.
- Está dizendo que vai me prender?
- Não estou dizendo que não vou.
Eles se encararam até Olívia abaixar a cabeça e fazer um carinho em Michael. Por algum motivo tinha um nó na garganta.
- Por favor... Nós vimos ele... Ezequiel o viu, eu só escutei sua risada... Delegado, aquela coisa na floresta é má! Muito má!
Gomes olhou de esguelha para o jovem datilografando e chegou mais perto de Olívia.
- Se quer mesmo saber – sussurrou, - pergunte ao seu marido. Ele é um dos poucos que ouviu meu relato. Agora saia da minha delegacia, está deixando o meu dia infeliz.
A cidade enlouqueceu. Pensou ela, sentando ao lado de Michael nas escadas da entrada.
Ezequiel parou do outro lado da rua e desceu da picape. Ele chamou Michael primeiro e o colocou na cabine, disse-lhe algo, depois andou até Olívia. Tinha uma expressão que a deixou preocupada.
- O que aconteceu? – Perguntou ela.
- É o velho Arnaldo. Não queria saber de conversa; vai atrás da esposa depois do almoço.
Arnaldo e sua esposa Roberta eram os donos da loja de ferragens da região e amigos de longa data do casal. Ambos tinham mais de cinquenta anos.
Apesar de ela se preocupar com a segurança de Arnaldo, era ótimo saber que alguém ainda se importava com uma pessoa desaparecida
- Ele vai sozinho?! Temos que ajuda-lo!
- Não! Não podemos enfrentar aquela coisa!
- Então você vai simplesmente deixar o demônio pegar ele?
Ezequiel cerrou os dentes e resmungou algo que soou como um rosnado.
- Se nós não formos, ninguém vai! É como se a cidade inteira estivesse dormindo!
- E se nós morrermos, Olívia?! E o Michael? Eu não ligo para o que vai acontecer com esta cidade! Nós três precisamos ficar juntos!
A pior parte de escutar aquelas palavras era saber que não poderiam estar mais certas. Ela daria qualquer coisa para viver normalmente com sua família, mas sabia que isso não seria possível enquanto o demônio habitasse a floresta.
Por enquanto... Aproveite...
- Não estamos mais seguros! Se não o matarmos... algo terrível vai acontecer!
Ezequiel permaneceu quieto, lutando com seus sentimentos. Olívia o abraçou.
- Dessa vez estaremos preparados.
Eles voltaram para casa em meio ao silêncio.
Durante o almoço, Michael devorou tudo que colocaram em seu prato. Estava feliz como garotos da idade dele devem ser. Quando o menino disse que estava com saudade daquela comida, Olívia teve que esconder as lágrimas. Olhou para Ezequiel, mas este tinha o olhar perdido e distante; mastigando de maneira mecânica e inexpressiva.
Eles pegaram o rifle e duas lanternas e partiram. Quando alcançaram a cidade, Ezequiel passou direto, por dois quilômetros, e entrou na fazenda onde Maria morava com os pais e seu filho Nicolas.
- Vamos pra casa do Nicolas?! – Perguntou Michael, animado. É claro que já sabia a resposta. Visitava a casa de seu amigo quase toda semana.
Ezequiel parou a picape em frente à varanda e buzinou.
Olívia pegou Michael pelo rosto.
- Voltaremos antes do anoitecer, ok?
- Onde vocês vão?
- Nós...
Ezequiel a interrompeu de repente:
- Vamos à outra cidade, filho. Você quer alguma coisa... ? Um filhote! Vou te trazer um cachorrinho!
- Sério, pai?! Que demais! Obrigado!
Por que isso agora?
Michael lhe deu um beijo e correu para a varanda, onde já se encontrava a família de Maria reunida.
- Ei! Venham tomar uma gelada! – Gritou o pai de Maria
- Fica pra próxima! – Respondeu Ezequiel, acenando.
- Até mais tarde! – Disse Olívia também acenando, enquanto o carro acelerava.
O que ela viu então, nunca mais sairia de sua mente. A família de Maria toda estava acenando e sorrindo, grotescamente. Suas bocas se abriam além do humanamente possível, mostrando as gengivas; e seus olhos estavam mortos, mas cheios de malícia... e algo mais. Até mesmo Michael parecia um pequeno assassino...
A picape fez curva, deixando a família de monstros atrás de uma árvore e além de sua vista. Olívia engoliu em seco e se ajeitou no assento. Estava pálida como leite.
- Eu só falei aquilo pra ver ele sorrindo – Disse Ezequiel.
Ah! Mas você não viu o sorriso que eu vi!
Será que o demônio estava mexendo com sua cabeça? Fazendo-a ver coisas?
Se aquilo havia sido um truque, tinha funcionado perfeitamente. Sim, aquela visão era claramente uma forma de diminuir sua coragem. O maldito estava debochando deles.
Na cidade, o movimento diminuíra pela metade; após o almoço todos se retiravam para suas residências. Quando passaram em frente à delegacia, Olívia lembrou de algo que já devia ter perguntado:
- O delegado te contou o sonho dele, não foi?
- É verdade – respondeu ele. – Aquele cara tá perdido.
- Como assim?
- Eu vou contar tudo. O Arnaldo também precisa ouvir isso.
Eles encontraram Arnaldo ao lado da loja de Ferragens, que também era a casa que dividia com a esposa. Estava sentado em um banco feito de tronco, de onde podia observar parte da floresta. O velho parecia bem abatido, mas demonstrou energia ao levantar e recebe-los.
- Zeca! Decidiu ajudar esse velho? Ah! Você trouxe Olívia para tentar me convencer, não é? Não adianta! Ninguém vai fazer nada! Pois eu vou atrás dela!
- Vamos todos juntos – disse Olívia. – Mas primeiro você precisa entender com o que estamos lidando.
Arnaldo pôs as mãos na cintura e os encarou.
- O que vocês sabem?
- É melhor o senhor se sentar.
Então Olívia lhe contou a experiência que tiveram com a criatura, terminando com a ameaça sussurrada em seu ouvido.
O velho só conseguiu ficar de boca aberta, escutando.
- Um demônio?! Não dá pra acreditar! Como se parecia, Zeca?
Ezequiel fechou a cara e bufou. Odiava ter que falar sobre isso; tanto que Olívia ainda tinha essa curiosidade.
- E isso importa?! Era azul, tá bom?! E tinha chifres! A minha preocupação não é o quanto ele é feio, e sim o que pode fazer com a nossa cabeça!
Aquilo lhe lembrou o rio azul que vira na floresta. Como ela tinha sido facilmente hipnotizada pelas ilusões brilhantes do demônio.
Ezequiel parecia ter adivinhado seu pensamento.
- Sim, você viu um maldito rio! Isso não é nada! Nada comparado ao que o demônio fez com o delegado.
A sentença pesou sobre o grupo com seu terrível agouro.
O mal tinha corrompido a justiça.
- Quando foi pego, Gomes sonhou com seu falecido irmão. No sonho, o irmão dele o levava para um passeio na nossa cidade... Só que... dez anos no futuro.
- O que tem o futuro? – Perguntou Arnaldo.
- A cidade que Gomes viu era próspera; cheia de gente e de comércio. Prédios pra todos os lados. Ele disse que parecia uma metrópole. Seu irmão lhe contou que a presença na floresta é boa; que é um guia para tornar a cidade rica!
Olívia levantou para não se tremer de raiva. Agora entendia um pouco os métodos do monstro.
- Então é por isso que ele não faz nada. O delegado caiu direitinho...
- Agora faz sentido... – disse Arnaldo. – Pobre Roberta, foi enganada!
Eles o esperaram continuar:
- Na noite que ela sumiu... Estava cantando e pulando em direção à floresta. Ela levantou no meio da noite e saiu correndo de camisola! Não pude alcança-la! Esse demônio a enfeitiçou!
- É sobre isso que eu quero falar – disse Ezequiel. – A criatura que vamos enfrentar pode nos fazer acreditar em qualquer coisa! Como vamos confiar uns nos outros?
- Nossa única vantagem é saber que haverá ilusões. Não seremos enganados tão facilmente dessa vez – disse Olívia.
Arnaldo bateu nas pernas e levantou, como se encerrasse o assunto.
- Não será nossa única vantagem. Venham aqui, vamos nos armar.
Eles o seguiram para dentro de sua loja, onde incontáveis ferramentas estavam dispostas.
- Escolham – disse ele, indo procurar algo nos fundos.
Sem demora, Ezequiel tirou um machado da parede e o examinou. Formava uma boa dupla com o rifle.
Olívia procurou entre as ferramentas em busca da arma perfeita. E depois de revirar pás, picaretas e rastelos, acabou optando pela foice longa. Com ela podia atacar a uma distância relativamente segura, e seus anos batendo pasto com certeza lhe ajudariam a manuseá-la.
Arnaldo voltou com seu rifle e uma bolsa grande que Olívia não conseguiu identificar o que era. Tinha braço, parecendo um estranho violão.
Ezequiel assobiou quando viu o volume e trocou olhares com o velho.
- Alguém quer me dizer o que é isso? – Perguntou Olívia.
- É uma motosserra – respondeu Ezequiel.
Quando as armas foram reunidas na parte de trás da picape, todos ficaram em silêncio por um tempo. Naqueles instantes eles sentiram toda a intensidade do que estavam prestes a fazer, e souberam que não havia mais volta.
Então saíram à caça. A caça ao demônio.


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